drag Up

"Quando penso na questão drag, eu penso nessa descontrução do que se pensa ser uma drag"
"Eu venho pro teatro a partir da performance, não por causa de atuação, nem nada disso. Meu foco no teatro é performance e arte em si. Onde está o hibridismo entre arte e vida.
Quando eu cheguei na universidade, cheguei com esse corpo, questionado a todo momento, esse corpo feminino, esse corpo que foge dos padrões estabelecidos e que para certas linguagens do teatro, eu preciso me neutralizar.
Comecei a assistir RuPaul's Drag Race com dez anos de idade, acompanho desde a primeira temporada e eu já me interessava por isso. Porém, eu gosto de uma desconstrução do que é ser drag. As drag queens em si são um ponto que eu percebi que os professores não tocam muito. Na história de teatro as mulheres vêm a atuar recentemente, então eram homens que representavam mulheres, então as drag queens existem há muito tempo. E isso não é tocado, não existe na universidade. É interessante nós, do teatro, vermos as drag queens como obra.
Me interesso por drag queens também porque eu participo de uma pesquisa sobre a performance do Voguing e como a cultura do Vogue abrange as questões raciais, de gênero, sexualidade e também a cultura drag. Eu me juntei ao Vitor Matsuo (Hissami), meu amigo, já havíamos discutido sobre drag queens antes, juntamos uma pesquisa com a outra. E minha nova pesquisa agora é sobre os Dzi Croquettes, um grupo brasileiro pouco conhecido, naquela época eram chamados de transformistas, porém, agora conhecemos como drag queens. Juntei minha pesquisa com o do Matsuo para entermos melhor essas corporalidades, naturalidades e performances da arte drag.
Minha família é inteira de artistas e eu sou trans-não-binária. Então, ser drag queen pra minha família é super tranquilo, transformações, performance, questões de nudez, isso é muito tranquilo. Não tive problemas nem com a minha sexualidade e nem com o meu gênero dentro de casa, apesar da minha família ser extremamente católica. Seleciono bem o meu círculo social, então eu ser drag queen para os meus amigos foi bem tranquilo também.
Quando eu penso na questão drag, eu penso nessa desconstrução do que é ser drag. Não estou potencializando, muito menos querendo ser mulher, nada disso. Eu penso em drag queens eu penso nessa obra de arte que é mesmo."